domingo, 26 de julho de 2009

Tristeza - Poética - Picasso


Não sei o que fazer com a melancolia de domingo
Com a pontualidade da melancolia de domingo
O insistente déjà vu
De me sentir o Arlequim de Picasso
Sentado com uma fantasia colorida
Olhando com uns olhos sorumbáticos
O tempo, o silêncio, a respiração
De uma tarde dominical regular
Começo a pensar como seria
Uma revolução popular melancólica
Trabalhadores e artistas com olhares-arlequins
Defendendo os ideais de fraternidade e liberdade
Acho que nesta revolução não existiria a violência
E o sangue se transformaria nas tintas coloridas
Da geração de Montparnasse
Foujita, Kisling, Picasso, Soutine, Chagall, Matisse, Modigliani
A graça poética e o maneirismo velado pela nostalgia
Que marcaram os ares parisienses dos anos vinte
Preciso urgentemente de uma linguagem
Que me ajude a traduzir a minha melancolia
E as periódicas tardes de domingo de sol

(Imagem: Paul como um arlequim. Pablo Picasso, 1924.)

PS - texto originalmente publicado neste blog no dia 11 de maio de 2008

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caros Espanhóis

Aos Mercantilistas Ibéricos,

Estão lembrados das atrocidades que vocês cometeram contra os povos indígenas assim que chegaram à nossa América Latina? Pois bem, os grandiosos impérios Incas e Astecas caíram por terra quando vocês lhes apontaram as espadas e armas, degolando-lhes as cabeças e explodindo seus templos à procura dos nossos metais preciosos. Lembram-se? Assim também foi com seus colegas portugueses quando chegaram ao Brasil. Vocês se enriqueceram destruindo nossa civilização e nossas propriedades naturais.

Estão lembrados que após esse inaugural massacre, vocês continuaram a dizimar os povos desse Novo Continente, deslegitimando sua cultura e aprisionando-os em regimes de trabalho autoritários e desumanos? Somando a isso o comércio de negros africanos - milhares trazidos por vocês para serem escravizados nas Ilhas das Antilhas. Lembram-se? No Brasil, os portugueses mantiveram a escravidão até fins do séc. XIX – foram mais de três milhões e meio de africanos escravizados no Brasil. Vocês se enriqueceram às custas de muita brutalidade e exploração da nossa mão-de-obra. Lucraram horrores por meio de horrores.

Pois bem. Em 1507 o nome AMÉRICA foi escrito pela primeira vez no planisfério desenhado por Martin Waldseemüller, cartógrafo alemão. Acredita-se que Waldseemüller tenha batizado o continente em razão das cartas escritas por Américo Vespúcio, mercador italiano presente na expedição de Colombo ao Novo Mundo. Neste mapa de Waldseemüller a região nordeste do Brasil é denominada “as terras de Américo ou América”, em latim Americi Terra vel America. O nome LATINA herdamos da etimologia do idioma colonizador: o português e o espanhol. AMÉRICA LATINA, um continente invadido, nomeado, dominado.

E cinco séculos se passaram até que vocês retornassem à nossa América com o claro intuito de nos explorar, nos desrespeitar, lucrar às custas de nossos patrimônios públicos e da nossa mão-de-obra. BRASIL, um país de todos. SÉCULO XX, o neoliberalismo na pós-modernidade. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, o Boca de Pudim da intelectualidade e política nacionais. TELEFÔNICA, o mal de todos os males, a empresa que ocupa o ranking das companhias com maior número de reclamações no Procon, na Anatel e no Idec. Brasil + neoliberalismo + FHC (ou PSDB) + Telefônica = o coquetel molotov arremessado contra a dignidade do povo brasileiro.

Caros mercantilistas espanhóis que fizeram a festa no Governo FHC e compraram a Telesp a preço de banana, a edição de janeiro/2007 da revista “Caros Amigos” tem uma matéria exclusiva sobre os abusos e descasos da empresa de vocês a qual nem falarei o nome agora para não atacar a alergia. Aquela lá sabe, daquela figura ridícula do Super 15? Aquela que deixa dezenas de orelhões quebrados nas ruas, que cobra tarifas exorbitantes, que rouba descaradamente seus clientes adicionando às suas contas telefônicas ligações interurbanas e internacionais não realizadas, ou pior, que frequentemente cobra por serviços não contratados (como o “Kit To Aqui” – atendimento simultâneo e transferência de chamadas). A empresa de vocês treina os funcionários para embromar o cliente ao telefone com informações inverossímeis, além de deixá-lo esperando na linha, quando não desligam de propósito, fingindo que a ligação caiu. E quanto seus funcionários recebem de salário no final do mês? A informação divulgada pela “Caros Amigos” é de pouco mais de 1 salário mínimo. Ou seja, quem consegue alçar vôos na TELEFÔNICA – aaatchiiimmm!!! - só mesmo o Super 15 com aquela capa voadora. A arrecadação mensal da empresa em 2005, apenas com a taxa de assinatura (taxa esta considerada ilegal pelos órgãos de defesa do consumidor) foi de 450 milhões de reais.

Sabendo que a privatização da telefonia fixa no Brasil foi mais uma daquelas famigeradas obras de Fernando Henrique Boca de Pudim, Aloísio Biondi no livro “O Brasil Privatizado”, editado pela Editora Fundação Perseu Abramo, faz um severo raio-x desse cruel processo de desmantelamento do patrimônio público. Pois bem caros espanhóis, sabe-se que vocês pagaram pela Telesp 4,9 bilhões de dólares em 1998 e anualmente seus lucros ultrapassam, e muito, o investimento gasto: só em 2004 vocês lucraram no Brasil 10 bilhões de dólares. Além disso, às vésperas dessa famosa “venda”, pensando nos lucros de vocês, o Governo FHC reajustou em 500% as tarifas telefônicas, demitiu centenas de funcionários da empresa para diminuir os gastos da folha de pagamento assumindo o pagamento dos direitos trabalhistas dos demitidos, além dos aposentados, investiu 21 bilhões de reais em infra-estrutura no setor – ampliação de redes, cabos, etc - e, inacreditavelmente a Telesp tinha não menos do que 1 bilhão em caixa ao ser entregue a vocês, ou seja, sem realizar esforço algum, vocês já começaram o investimento com o pé direito. Poderia se dizer que o Boca de Pudim é antes de tudo um homem cordial?

Mas deixemos esse verdadeiro negócio da China de lado e o Pudim, no forno. Independentemente de todas estas desmoralizações pretéritas do ano de 1998, aliás, a TELEFÔNICA BRASIL IL IL - aaatchiiimmm!!! – já está completando onze anos, gostaria de protestar contra as posturas atuais da empresa, os abusos e maus tratos contra os brasileiros, a incompetência dos serviços prestados e os estelionatos diariamente cometidos. Gostaria de saber se nos 37 países dos quatro continentes em que a TELEFÔNICA – aaaattch.... ufa, passou - possui filiais (Europa, Oceania, África e América) as suas políticas, ofertas e ações são iguais, padronizadas, ou se nós, latino-americanos por vocês colonizados, possibilitamos esse tratamento especial (Ainda mais com o apoio da TUCANALHA BRASILEIRA chancelando tais comportamentos, estabelecendo e assinando verdadeiros tratados de dominação).

Caros mercantilistas espanhóis, o fato é que cinco séculos se passaram e vocês continuam a nos sugar. A América Latina ainda agoniza e a empresa de vocês é o exemplo de que as suas riquezas permanecem sendo constituídas de nossas misérias. Acabo por aqui com os dedos formigando de vontade de citar o papel da revista VEJA, sua fiel comparsa e amiga íntima do Boca de Pudim, nessa história toda, mas isso fica pra próxima. Hasta, vou “passar um fax” pelo Super 15! (ou pela banda larga do Speed, já que é larga mesmo)!

(PS. texto originalmente publicado neste blog no dia 5 de dezembro de 2007)